domingo, 17 de março de 2013

"Coreana" revela drama da guerra


"Coreana" revela drama da guerra
Mulher radicada no Recife conta como escapou de fuzilamento


Sérgio Bernardo/Folha de Pernambuco
Filha de coreanos, Choi nasceu na China e ainda criança viveu nos dois lados da guerra
Quando a Guerra da Coreia começou, em 25 de junho de 1950, Soon Ja Choi tinha 8 anos e vivia em Seul, na Coreia do Sul. Mas sua história de fugas havia começado bem antes. Sua família, que é coreana, fugiu para a China quando o Japão invadiu, entre 1910 e 1945, a Coreia, à época unificada. Ela nasceu em Shenyang, na China, e aos 3 anos fugiu para Pyongyang, na Coreia do Norte. Mas, por causa da repressão do regime comunista que havia se instalado no país após a 2ª Guerra Mundial, novamente sua família decidiu fugir, desta vez, para a vizinha do Sul.
Apesar de ter nascido na China, Choi prefere ser identificada como “coreana”, assim como sua família. Aos 71 anos, a dona do restaurante Burgogui, no Espinheiro, na Zona Norte do Recife, não conseguiu esquecer as marcas das guerras. As lembranças, ainda que longínquas, fazem-se presente, o olhar perdido e as mãos inquietas entregam. Ademais, conviveu com as constantes ameaças do vizinho do Norte.
Com a divisão na Península, o Sul foi ocupado pelos Estados Unidos, enquanto o Norte foi pela União Soviética (URSS), posteriormente, com o apoio da China. Embora tenha vivido pouco tempo no Norte, as lembranças da ditadura não saem da memória. “No colégio onde eu estudava a alfabetização, tinha uma estátua enorme do ‘general’ Kim Il-sung [avô de Kim Jong-um, atual líder do país], e todos os dias quando entrávamos tínhamos que cumprimentá-lo e cantar músicas em reverência a ele”, recorda Choi, que à época tinha 6 anos.
    Neste mesmo período, Choi conseguiu atravessar a fronteira em direção ao Sul. “Perto da fronteira era muito perigoso. Tínhamos que ir pelo mar à noite e, durante o dia, nos escondíamos”, conta. “Durante a fuga, minha mãe e eu fomos encontradas e levadas ao galpão de fuzilamento. Fingi que estava com dor de barriga e nos deixaram ir a um matagal próximo, foi quando fugimos. Eles ainda atiraram, mas não conseguiu nos acertar”, explica Choi, acrescentando que viu muita gente sendo fuzilada por tentar fugir.
    Depoimento de Choi sobre sua fuga da Coreia do Norte para a Coreia do Sul
    O atrito entre norte-americanos e soviéticos continuava veladamente. Ambos reivindicavam o controle do território. Até que, em 1950, alegando suposta invasão no Paralelo 38º, como é conhecida a fronteira, a República Democrática Popular da China (RDPC) invadiu a República da Coreia (RC). A “coreana” tinha 8 anos, mas as recordações ainda permeiam a memória. “Era um domingo de manhã, a Coreia do Norte estava atacando Seul, nós fugimos andando, pisamos em cima de cadáveres. Havia muitas casas pegando fogo por causa dos bombardeios. Eu acabei me perdendo dos meus pais e fui encontrada pelos meus avós e tios, que cuidaram de mim”, disse. “Pensei que meus pais haviam morrido e eles pensavam o mesmo de mim”. Meses depois, pais e filha se encontram.
    Três anos depois, as Coreias estabelecem a paz através do Armistício de Panmunjon. Mais de três milhões de coreanos morreram durante a guerra e milhares ficaram desabrigados, segundo o Serviço Exterior de Informações da Coreia. As ameaçam seguem até hoje. 
    FONTE FOLHAPE.

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