domingo, 17 de março de 2013

Higor Alves, 17 anos, nascido nos Coelhos, passou em 2º lugar em direito na UFPE, sem optar pelo sistema de cotas


EDUCAÇÃO

Desafio à lei dos mais fortes

Higor Alves, 17 anos, nascido nos Coelhos, passou em 2º lugar em direito na UFPE, sem optar pelo sistema de cotas

 / Guga Matos/JC Imagem

Guga Matos/JC Imagem

O estudante Higor Alves, 17 anos, é nascido e criado no bairro dos Coelhos, área central do Recife, uma das comunidades dominadas pelo tráfico de drogas na cidade. No ano passado, a Polícia Civil apreendeu 872 quilos de maconha, 745 quilos de crack e efetuou 194 prisões. O rapaz poderia ser apenas um número nessas taxas de criminalidade, mas escolheu dedicar a vida aos estudos. “Na maioria das vezes em que a polícia chega aqui, as abordagens são truculentas. Sei que existe tráfico no bairro, mas os direitos humanos precisam ser levados em consideração.”
No vestibular 2013 da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Higor foi aprovado em segundo lugar para direito, terceira graduação mais concorrida, com 16,8 candidatos disputando uma vaga. Egresso de escola pública, pobre e negro, não optou pelo sistema de cotas, inédito nos exames da UFPE. Já tinha garantido vaga no mesmo curso, na Universidade Católica de Pernambuco (Unicap), pelo Programa Universidade para todos (Prouni). Venceu o processo seletivo e garantiu bolsa integral de estudos.
No entanto, não foi fácil para Higor concorrer à bolsa. Deu trabalho reunir toda a documentação exigida pelo governo federal. Na página eletrônica do Prouni, há uma relação com pelo menos 60 documentos estabelecidos. “Quando saiu o resultado do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio), no fim de dezembro, tive que fazer a pré-inscrição do Prouni. Contracheques, carteira de trabalho, identidade, comprovante de residência, uma infinidade de documentos. Fiquei com medo de que na seleção da UFPE ocorresse o mesmo. Poderia perder minha vaga, se não conseguisse comprovar minha condição de cotista. Por isso, escolhi disputar o vestibular pela concorrência livre.”
SONHO - Estar convicto de que faria boas provas no exame da UFPE lhe deu mais coragem de não aderir ao sistema de cotas. Apesar da decisão, é a favor delas, enquanto os municípios não melhorarem a educação básica. “Faltam estrutura e material didático nas escolas. O trabalho dos professores é desvalorizado. Pais são inadimplentes em relação aos filhos.” Agora universitário, Higor sabe que está mais perto de realizar um sonho: tornar-se defensor público para lutar pelos direitos dos menos favorecidos pelas políticas públicas.
“Não existe assistência jurídica para quem não tem dinheiro. Um tio meu já foi enganado por advogados. Eles se aproveitam da falta de instrução das pessoas e cobraram valores exorbitantes. Quero aprender a ser um profissional competente, ético e justo, para defender aqueles que não têm condições de pagar.”
FONTE JC ON LINE.

Nenhum comentário:

Postar um comentário