terça-feira, 5 de março de 2013

Moradores do Recife já sentem efeito do racionamento de água


GRANDE RECIFE // FALTA D´AGUA

Moradores do Recife já sentem efeito do racionamento de água

1966f13e035e0a63cf523a9d04e23113.jpg
Desde o dia 1º, os recifenses estão participando do rodízio no abastecimento de água.
Fotos: Erick França/NE10

Erick FrançaDo NE10
O anúncio feito pela Companhia de Saneamento de Pernambuco (Compesa), na última quinta-feira (28), pegou os recifenses de surpresa. Após dois anos com água todos os dias na torneira, o fantasma do racionamento veio à tona mais uma vez. A medida foi tomada devido ao pouco volume de água nas nove barragens que atendem a Região Metropolitana do Recife. Nesta segunda-feira (4), a reportagem do Portal NE10 esteve em cinco bairros da capital pernambucana para verificar como os moradores estão enfrentando esse racionamento. Em todos os locais, o que mais amedronta a população é o retorno do tempo da escassez do líquido, algo que não acontece desde 2010, quando o Sistema Pirapama foi inaugurado.

Após a divulgação do governo do Estado, muitas pessoas pegaram baldes e panelas e começaram, novamente, a juntar água nesses recipientes. Guardar a água da chuva que caiu nesta manhã na capital foi uma das maneiras que a manicure Edineide Juvenal, de 49 anos, encontrou para ter o líquido em sua casa. Residente na Rua Professora Argemira Rego Barros, no bairro da Várzea, ela acordou cedo para juntar água. "Há 15 dias estamos enfrentando a falta d´agua aqui no bairro. Quando a Compesa anunciou o racionamento, aqui já existia. Sábado veio água, mas estava muito fraca. Como hoje choveu, aproveitei para pegar um pouco da chuva", disse Edineide.

A Compesa esquematizou o abastecimento para 74 dos 94 bairros da capital. Desde o último dia 1º, existe um sistema de rodízio. São 20 horas com água e 28 horas sem. A vizinha de Edineide Juvenal, a cozinheira Lindalva Gomes, 60, sabe muito bem como esse esquema está prejudicando o seu cotidiano. Como ela trabalha somente em dias ímpares, acaba perdendo o dia do abastecimento em seu bairro. "No dia em que trabalho é exatamente o dia em que a água chega aqui. Quando estou de folga não tem mais água em minha casa e por causa disso eu fico muito limitada. Já estou fazendo as coisas no meu trabalho mesmo, eu lavo minha farda e tomo banho lá", relata Lindalva.

A cozinheira Lindalva já enfrenta a dificuldade de ter que juntar água em recipientes
No bairro do Cordeiro, na Zona Oeste, os moradores também estão começando a sofrer com o racionamento. Moradora do Conjunto Habitacional do Cordeiro, a dona de casa Iva Maria, 61, relata que está sendo prejudicada com a situação, mas entende que é por causa da seca. "Eu estou pegando água aqui na cisterna do meu  bloco e lembro que no ano passado também passamos por um momento assim. Na época tivemos até que comprar água em carros-pipa. Pelo menos no meu prédio, os moradores estão economizando a água que ainda resta, pois não sabemos como vai ser nos próximos dias. E agora com a seca temos que poupar mesmo. Mas a minha situação é pior porque tenho dores na coluna e moro no 2º andar, então subir com baldes é muito sacrificante", diz Iva Maria.

Em tempos de racionamento, o que resta para as pessoas é guardar a água onde pode. Dona Iva Maria relata que guarda o líquido em diversos reservatórios em sua casa. "A gente tem que guardar água em panelas, baldes e tudo que tiver espaço. Fazer serviços básicos na casa fica difícil. Lavar roupa é o pior, pois gasta muita água. É o bloco todo que está sofrendo com essa situação", afirma. O bloco em frente ao de dona Iva é onde reside a ambulante Severina Barbosa, 62. Como ela vende lanches na rua, tem uma necessidade muito grande de ter água na torneira. Mas de acordo com a ambulante, há dias que o líquido não chega em seu apartamento. "Faz mais ou menos um mês que estamos sem água. Eu fico refém disso tudo. Tem dia que não vou vender meus lanches porque não tem água. O que nos resta é juntar em panelas e baldes. Eu não gosto disso,  mas tenho que fazer para poder cozinhar e tomar banho", relata Severina.

No bairro de Jardim São Paulo, zona oeste do Recife, os moradores resolveram os problemas antigos de falta d´agua com a construção de cisternas e a compra de reservatórios maiores. "O que está nos salvando é a cisterna. Pois aqui não chega água de jeito nenhum. Isso acontece antes mesmo da Compesa ter falado sobre o racionamento", conta a doméstica Ana Lúcia. No bairro, a procura por garrafões de água mineral aumentou consideravelmente nos últimos dias. Há 12 anos, Josiberto Ramos é dono de uma loja que vende água mineral. Ele relata que é notório o aumento da procura por garrafões. "Acredito que as vendas aumentaram em torno de 30% nos últimos dias. Certamente isso se deve à falta d´agua no bairro. O garrafão aqui em meu estabelecimento custa R$ 3,50 e chego a vender quase 300 garrafões por dia. Geralmente as pessoas compram o líquido para cozinhar e até para tomar banho", conta Josiberto.

A venda de garrafões de água mineral teve aumento de 30% no comércio de Josiberto Ramos (de laranja)
Moradora da Rua João Teixeira, no bairro da Estância, a dona de casa Maria das Graças também reclama do racionamento. "Já faz tempo que falta água aqui. Desde que começou essa obra da Copa só vive faltando água. Nós temos que nos virar todos os dias. Agora, a conta da Compesa vem sempre alta", reclamou. Já na Rua Jairo Sodré, na Mangueira, os moradores ainda não sentem o rodízio da Compesa. Eduardo José Santos, 57, é um ex-funcionário da Companhia. Precavido,  construiu uma cisterna e colocou duas caixas d´agua em sua casa. Eduardo relata que o abastecimento é fraco, mas chega água nas torneiras. "Até agora não fomos muito afetados. Tem dia que falta água de manhã, mas à noite chega. Estamos no começo do racionamento, mas lembro da época que trabalhava na companhia. Vivi muitos momentos de seca e, nos 33 anos que fiquei lá, sofri com isso. Tomara que dessa vez seja diferente", afirma Eduardo.

RACIONAMENTO - Na última sexta-feira (1º), teve início o rodízio temporário do abastecimento de água no Recife. A Companhia dividiu a cidade em dois setores para organizar a liberação de água nos próximos três meses. O setor 1 é abastecido nos dias ímpares e corresponde a 36 bairros (Aflitos, Boa Viagem, Boa Vista, Campo Grande, Ponto de Parada e outros). Já o setor 2 é abastecido nos dias pares e é composto de 38 bairros (Afogados, Areias, Cidade Universitária, Casa Amarela, Torrões e outros). O sistema ficará aberto durante 20 horas. Os moradores dos morros já são abastecidos com rodízio e não haverá mudança para eles. O racionamento surgiu novamente no Recife por causa do pouco volume de água nas nove barragens que atendem a Região Metropolitana.
FONTE NE 10.

Nenhum comentário:

Postar um comentário