No Recife, feirante usa horário de almoço para alfabetizar trabalhadores
Três vezes por semana, Valderice Barros dá aulas na Ceasa.
Formada em pedagogia, a feirante dava aulas em escolas públicas.
Formada em pedagogia, a feirante dava aulas em escolas públicas.
Falta de tempo não é desculpa para deixar de ajudar
o próximo. É com esse pensamento que a feirante e professora aposentada
Valderice Barros, de 67 anos, se divide entre o trabalho no Centro de
Abastecimento e Logística de Pernambuco (Ceasa), no Recife, e a função de
alfabetizadora. Três vezes por semana, ela abre mão do horário do almoço para
dar aulas a uma turma de trabalhadores que buscam escrever um futuro diferente,
como mostrou o Bom Dia Pernambuco desta quarta-feira (13).
Natural de Lajedo, no Agreste de Pernambuco, Valderice mora
atualmente em Jaboatão dos Guararapes, na Região Metropolitana do Recife. Todos
os dias, ela acorda bem cedo e segue para o Ceasa, onde trabalha com revenda de
ovos e coordena atentamente os funcionários. “Eu chego aqui às 4h30, acordei às
3h30”, conta a feirante.
Formada em pedagogia, Valderice ensinou em escolas públicas e, quando se
aposentou, não abandonou a sala de aula. Ao meio-dia, dona Val,como é conhecida,
deixa tudo o que está fazendo para seguir até a Associação de Usuários do Ceasa,
onde se encontra com seus alunos de alfabetização.
Valderice dá aulas de alfabetização de adultos
(Foto: Reprodução/Globo Nordeste)
A professora aposentada usa o método criado pelo educador pernambucano Paulo
Freire, que alfabetiza o adulto por meio de palavras do dia-dia. “Já aprendi
tanto com eles. O trabalho deles, o carinho que eles têm, só quero bem a esses
‘meninos’. Eles são mais que meus alunos, são meus filhos. Cada dia que passa,
me sinto fortalecida quando saio daqui”, conta a professora.
Funcionário do Ceasa há 23 anos, o auxiliar administrativo Eduardo de Souza,
de 47 anos, só agora aprendeu a escrever o nome do lugar em que trabalha.
“Passava o ônibus e eu não pegava porque não sabia direito qual pegar. Agora
consigo pegar tranquilo, já leio a plaquinha”, diz, orgulhoso, o auxiliar
administrativo.
O auxiliar de serviços gerais Alex Ferreira, de 33 anos, se dedica a aprender
a ler e escrever para realizar um sonho antigo. “Não quero parar até eu
conseguir ter a minha carteira de motorista. A primeira passageira que vou levar
é a professora”, promete Ferreira.
Aos 37 anos, o pedreiro Brivaldo Feitosa já havia tentado duas vezes retornar
a escola, mas o cansaço pelo longo dia de trabalho sempre o fazia desistir.
“Perdi muito emprego bom por causa do estudo. Fui fazer uma prova e saí, porque
não sabia fazer”, relembra o pedreiro, que se sente feliz por finalmente
conseguir levar adiante os estudos. “É como se tivesse ganhado um prêmio”,
conta.
Trabalhadores aprendem a escrever (Foto:
Reprodução/Globo Nordeste)
O estoquista Josivaldo dos Santos foi aluno da primeira turma de
alfabetização, dez anos atrás. Antes de aprender a ler, passou muito sufoco por
não conseguir ler e fazer a conferência dos materiais, morria de vergonha da
situação, mas conseguiu reverter o quadro. “Agora, despacho até melhor que os
meus colegas”, garante o estoquista, que agradece a professora de coração por
tudo que aprendeu. “A gente tem muito que agradecer, a ela e a Deus”, afirma
Santos.
Agora, o auxiliar de serviços gerais Marcos Xavier não vai passar mais aperto
para mandar cartão para a namorada. “Eu falava, mas não sabia escrever. Estou
tentando até mandar cartão para ela [namorada] agora”, conta.
fonte g1 PE
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