NORDESTE
Seca reduz em 40% a produção de leite no Ceará
Prejuízo dos agricultores chega a 160 mil por dia
BRASÍLIA – Há sete meses as contas dos produtores de leite cearenses não
fecham nos mesmos patamares do ano passado. Os resultados da atividade,
desempenhada por mais de 100 mil pessoas no estado, estão 40% abaixo da média da
produção, que chegava a 500 mil litros de leite por dia. Ou seja, o prejuízo
provocado pela seca que afeta gravemente o Semiárido nordestino desde o início
do ano tem tirado do bolso desses agricultores cerca de R$ 160 mil reais por
dia.
Apesar de as duas maiores barragens da região Nordeste estarem no Ceará - a
Barragem do Figueiredo, no Vale do Jaguaribe, e a Barragem do Rio Acaraú - quase
90% do estado fica no Semiárido, onde a pecuária é a principal atividade
econômica. “A manutenção dos rebanhos é o nosso maior problema”, explicou
Fernando Saboya, presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado do
Ceará (Faec). Com o problema da má distribuição da água, alguns municípios, como
Inhamuns, na divisa com os estados do Piauí e de Pernambuco, não recebem sequer
uma gota do recurso hídrico.
“Estamos enfrentando uma das piores secas dos últimos 40 anos. A problemática
do homem (fome e seca) está relativamente contornada pelos programas sociais do
governo, mas as atividades produtivas estão caminhando para a liquidação”,
avaliou Saboya.
Segundo ele, além das perdas da produção de leite que, acumuladas, somam mais
de R$ 33 milhões em todo o estado, os produtores não estão conseguindo alimentar
o gado. Com isso, muitos animais morrem ou são vendidos para outros estados como
Tocantins e Pará. De acordo com levantamento da Faeb, o número de animais
comercializados nas feiras locais triplicou e as vendas têm sido fechadas com
valores abaixo da metade do preço de mercado.
“Praticamente, os pequenos produtores estão dependendo exclusivamente do
programa de Venda em Balcão. Mas, pela complexidade da logística de transferir
milho de Mato Grosso e Goiás para o Ceará, têm produzido hiatos nos armazéns”,
disse. Segundo Saboya, alguns municípios, como Crateús, estão desde quinta-feira
(22) sem qualquer estoque do grão.
Pelo Venda em Balcão, os produtores conseguem comprar o milho transportado da
Região Centro-Oeste com preços abaixo dos praticados no mercado. Nos primeiros
meses deste ano, a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) não estava
conseguindo garantir o transporte do produto por causa dos baixos preços
oferecidos para as transportadoras, que não manifestavam interesse em participar
dos leilões. Com a definição de novas estratégias, o transporte, segundo a
Conab, foi normalizado desde agosto.
“O nosso maior problema não era no ponto de venda, mas na remoção [do milho
para os municípios]. Mas a situação foi regularizada e está estável e a
tendência é melhorar ainda mais”, garantiu Nilton Lélio de Melo, superintendente
de Abastecimento Social da Conab. Segundo ele, a companhia está mantendo uma
média de transporte de 17 mil toneladas por semana para os municípios afetados
pela estiagem no Nordeste.
De quase 44 mil toneladas de milho contratadas pelos produtores baianos, 32,5
mil toneladas já foram entregues pela Conab. No Ceará, falta entregar menos de
13 mil toneladas, do total de 63 mil contratadas. No Rio Grande do Norte, o
volume entregue chega a 40 mil. Ainda restam 53 mil toneladas de milho a serem
transportadas.
Apesar dos números indicarem que a distribuição foi normalizada, os técnicos
da Conab ainda têm que contornar a falta de estrutura no local de entrega.
Muitos polos recebedores, unidades da companhia nos estados, não oferecem as
condições adequadas. Em alguns municípios o milho é entregue em ginásios de
esporte, que foram improvisados para a atual situação.
“O volume contratado ainda está abaixo da demanda”, admitiu Rafael Bueno,
superintendente de Armazenagem e Movimentação de Estoques da Conab. “Mas temos o
problema estrutural de capacidade de recebimento e armazenamento na ponta que
não permite a remoção de quantidade maior do produto”.
Segundo ele, a companhia tem buscado alternativas como a construção de novos
polos recebedores e negociações com os governos estaduais para aumentar o número
de estivadores, trabalhadores responsáveis pela descarga do produto. “Também
deslocamos a frota de caminhões da Conab para os estados para organizar melhor a
distribuição na região, principalmente para os polos de mais difícil acesso”,
explicou.
FONTE FOLHAPE.
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