Campeões antes tarde do que nunca
Dona Cordelita e Seu Leonel viraram atletas muito depois da "hora da aposentadoria" no esporte
Nunca é tarde para tentar. Esse é o lema de dois campeões
da terceira idade que, por um capricho do destino, se tornaram atletas
muito depois da “hora da aposentadoria” do mundo esportivo. Apesar de
não se conhecerem, os veteranos Cordelita Nunes, de 82 anos, e Leonel
Souza, 76, compartilham da mesma paixão: o esporte.
Foi só aos 69 anos que Dona Cordelita descobriu o prazer da atividade
física. Mãe, avó e bisavó, a nadadora iniciou sua carreira nas piscinas
praticando hidroginástica para melhorar a sua disposição. No entanto, o
que parecia um simples caminho para uma vida mais saudável virou uma
surpresa muito especial para ela, que se destacou dentro d’água. “Antes
da hidroginástica, nunca havia entrado numa piscina na vida. Quando o
professor me convidou para participar do time do Clube Português,
duvidei da minha capacidade. Afinal, estava com quase 70 anos”, contou.
Durante os mais de 12 anos no esporte, a natação apresentou novos
horizontes à viúva, que já viajou por boa parte do Brasil. Antes adepta
do artesanato e da costura, Dona Cordelita optou por caminhos mais
agitados e competitivos, acumulando impressionantes 490 medalhas,
inúmeras de ouro. “Quando comecei nos torneios, após só três meses
treinando, me disseram que eu não conseguiria ganhar medalhas. Trouxe um
bronze e mostrei que não estava para brincadeira”, brincou a
especialista nos 200m costas, que já participou de mais de 60
competições nacionais e até internacionais.
Para financiar as viagens e as inscrições, a campeã aplica toda a
pequena quantia que recebe de pensão na carreira. “Essa é a hora de
investir em mim, entretanto, ainda preciso de patrocínio. Faço minhas
rifas, mas nem sempre o dinheiro é suficiente”, completou.
Orgulho da família e dos amigos, a esportista garante que sua vida e
principalmente a sua saúde só fizeram melhorar depois da natação. Antes
indisposta, ela ressaltou que aprendeu a viver de forma saudável, sempre
com os exames em dia. “Me sinto mais jovem e animada. A natação é uma
paixão. Só deixo as piscinas quando Jesus me chamar”, garantiu.
Professor de educação física aposentado e ex-jogador de futebol –
passou pelo Náutico e Vasco –, Seu Leonel tem um currículo esportivo
memorável. Apesar da decepção de ter abandonado os campos cedo, após uma
grave contusão, o atleta não se deu por vencido e logo achou outra
razão para correr. Desta vez, não atrás de uma bola.
Pedestrianista desde os 50 anos, o aposentado já participou de 47
maratonas, correndo por várias partes do Brasil, além de passar pela
Inglaterra, Argentina, França e Estados Unidos. Apesar do histórico, a
iniciação do marido de Dona Dalva foi um pouco difícil. Com medo de se
aventurar em competições, Seu Leonel foi finalmente convencido por um
amigo que o inscreveu para disputar, pela primeira vez, os 42,195km em
busca do pódio. “Depois da primeira, não consegui mais parar. Já sofri
muito para terminar as maratonas, mas também é uma das coisas mais
gostosas que já pratiquei na vida”, afirmou o aposentado, que treina
todos as manhãs, percorrendo as ruas de Olinda, Paulista e Abreu e Lima.
Entre os momentos mais marcantes e as muitas histórias para contar, o
esportista destaca sua participação na Maratona de Nova Iorque, em
1994. Quase nevando, o nordestino penou para enfrentar o frio e
finalizar a prova norte-americana. “Foi muito difícil. Eu não havia
comprado roupa de frio e tive que me virar com um saco de lixo. Deu
certo, me esquentou”, contou o pedestrianista, que ficou conhecido entre
os companheiros de disputa como o E.T. do Brasil.
Torcedor do Santa Cruz, Seu Leonel já fez muitos amigos e conquistou
mais adeptos para o esporte durante os anos de corrida. “Eu convido todo
mundo para treinar comigo. Não chamo ninguém para beber, só para
correr”, brinca o campeão, que, com troféus e medalhas espalhadas pela
casa, não faz ideia de quantas vezes subiu no lugar mais alto do pódio.
O veterano, que chegou a percorrer mais de 50km em uma caminhada no
Rio Grande do Sul, em 2003, vive em dia com os exames e com a saúde.
“Não bebo e não fumo e sei que na minha faixa etária eu tenho que me
cuidar. Dou de 10x0 em muito garotão”, admitiu sorridente.
Prestes a completar 77 anos, Seu Leonel não pensa em deixar o
pedestrianismo e já fez toda a sua programação para 2013. Além dos
treinos, disputará as maratonas de Florianópolis, Porto Alegre e Boston,
nos Estados Unidos.
FONTE NE 10
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