Grupo oferece churrasco de tubarão em ato em prol de pesca controlada
Propesca defende educação ambiental e rede de segurança para banhistas.
Comitê de Monitoramento diz que taxa de ataque caiu pelo menos 30 vezes.
"Não defendemos o extermínio de qualquer animal, apenas propomos ações
preventivas de controle biológico para o equilíbrio do bioma marinho". O
aviso, dado no folheto do movimento Propesca, desconstrói a ideia
formada por parte da população recifense, que acredita que o grupo se
propõe a caçar tubarões predatoriamente. E foi com o intuito de
esclarecer a população sobre isso que integrantes do movimento se
reuniram na beira-mar de Boa Viagem, na Zona Sul do Recife, na tarde
desta sexta-feira (30).
Bruno
Pantoja é um dos idealizadores do Propesca e promoveu churrasco de
tubarão em Boa Viagem, praia do Recife que já registrou vários ataques
O encontro - que contou com cerca de 50 pessoas, que comeram churrasco e
tomaram caldinho feitos a partir de 40kg de tubarão da espécie Mako,
comprados legalmente -, buscou ainda chamar a atenção do governo do
estado e da Prefeitura do Recife. "Queremos conscientizar a sociedade
civil em peso, com relação aos ataques de tubarão, ao longo desses 20
anos. As medidas que vêm sendo tomadas não tiveram nenhuma eficácia, até
agora não houve resultado. A sociedade civil clama por uma resposta",
afirma Bruno Pantoja, engenheiro de pesca e idealizador do Propesca.
O surfista Bruno Amaro, 32, conheceu o movimento através de Pantoja, de
quem é amigo: "Acho que o movimento pode unir duas coisas muito
interessantes, que é a continuação das pesquisas em relação à
problemática dos tubarões com uma solução imediatista, que é a pesca
artesanal não predatória. Queremos tentar equilibrar a situação",
descreve.
"A pesca desordenada e predatória é um agravante. O que nós propomos é
uma política estruturante de ordenamento da pesca, com monitoramento e
um programa de educação ambiental", explica Pantoja, ao detalhar que o
Propesca prevê a conscientização dos pescadores para evitar a captura de
tubarões do tipo lixa, por exemplo, que estão em extinção.
Protesto também teve caldinho de tubarão
No manifesto divulgado pelo grupo, algumas iniciativas desejadas pelos
manifestantes são descritas. Entre elas está a implantação de um sistema
de segurança para os banhistas e desportistas aquáticos. "Isso seria
feito com a implantação de telas rígidas, retráteis, de dupla
galvanização, com material anti-incrustante, ao longo de toda a costa da
Região Metropolitana", explica Pantoja.
Outras ações sugeridas pelo projeto são a fiscalização e o
monitoramento do desembarque pesqueiro, programas de apoio aos animais
ameaçados de extinção e inclusão de jovens de baixa renda à prática de
esportes náuticos. "Ao invés de matarmos os animais em peso, vamos
afugentá-los. Caso eles consigam, de forma ínfima, passar pela rede de
proteção, sirenes ligadas à rede soariam, para a evacuação da área",
detalha o engenheiro de pesca.
O grupo pretende ainda monitorar o ecossistema de mananciais e
manguezais, a fim de cobrar do governo a preservação dessas áreas. "É
uma questão importante dentro desse contexto. A poluição faz com que 67%
do esgotamento sanitário da Região Metropolitana seja lançado
diretamente dentro dos rios, obrigando esses animais a procurar outro
habitat para se refugiar, reproduzir e alimentar", esclarece Pantoja.
'20 anos de ataques'
Pesquisador de ataque de tubarões e ex-coronel do Corpo de Bombeiros,
Neyff Souza também se interessou pelas propostas do Propesca. "Pesquiso o
assunto desde 1980 e estou dando apoio ao grupo porque é uma
representatividade da sociedade civil, criada para cobrar os resultados
das pesquisas que foram feitas nestes 20 anos de ataque".
"Temos aqui ataques históricos, como o de um padre franciscano em 1947,
alguns nos anos 1960, poucos nos anos 1980 e, com toda a devastação de
meio ambiente e também o afluxo de pessoas e o advento mais efetivo de
esportes náuticos, um aumento de ataques desde os anos 1990. O que nos
preocupa é que, em lugares que registraram ataques, as pessoas querem
logo caçar o tubarão, ao invés de verificar o porquê de ele estar
atacando", explica Souza.
Ainda de acordo com Bruno Pantoja, o Propesca pretende ainda buscar
apoio junto ao Ministério Público de Pernambuco: "Estamos solicitando ao
MPPE que se conscientize e reflita sobre as questões ambientais e a
problemática dos ataques de tubarão. E, principalmente, vidas humanas
que estão sendo interrompidas".
Propesca
faz manifestação em Boa Viagem, área do Recife sinalizada por causa dos
ataques de tubarão
A atuação do Cemit
Entre as críticas do movimento está a atuação do Comitê Estadual de
Monitoramento de Incidentes com Tubarões (Cemit). O surfista Arthur
Tavares usou como exemplo as placas colocadas ao longo da beira-mar de
Boa Viagem: "Existem muitas informações erradas ou desnecessárias, e
essa é a forma que eles usam para prevenir ataques. Nessa frase em que
eles falam para não entrar sozinho no mar, por exemplo... Como assim? Se
eu estiver acompanhado, o tubarão não vai atacar? Isso é um absurdo",
critica.
Por sua vez, Rosângela Lessa, presidente do Cemit, diz que tem
trabalhado incessantemente, nos últimos oito anos, desenvolvendo
pesquisas que resultaram em uma diminuição dos ataques. "Hoje temos
taxas que são pelo menos 30 vezes menores do que as que já tivemos no
início desses incidentes. Então muito do que se tem hoje, na diminuição
dos ataques de tubarão, se deve às políticas do Cemit. E esses
resultados podem ser vistos nas placas que estão distribuídas ao longo
da orla de Pernambuco, com advertências. Cada uma dessas advertências
corresponde a frutos das pesquisas desenvolvidas no período", explica.
"A placa de advertência é a ação que mais aparece. E se a gente tivesse
que passar qualquer mensagem para a população, para minimizar ataques, é
que sigam o que está nas placas de advertência. Além disso, desde 2004
existe um projeto de educação ambiental importante, no sentido de
conscientizar a população. Existe também um projeto de pesquisa que tem
gerado grande conhecimento em relação às espécies que têm usado essa
região como habitat", acrescenta Lessa.
FONTE G1 PE.